sexta-feira, 26 de agosto de 2011

POESIA (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia mar sexo) )

O poeta se escreve
- escreve para si mesmo
e não para outrem
nem tampouco para a tampa tamanha da posteridade tacanha
- um solipsismo de solipsista fanático
solidão em solitude
atitude eremita
com o caranguejo-ermitão
sem termos pelos ermos do profeta no deserto
buscando a ermida ou o eremitério
enfim a tebaida
por ser mui vulnerável
não ter carapaça

Os pósteros que se...!!!...
- assim esgrima aquele que se esculpe no ar
com uma geometria que se mensura
em signos materiais
e símbolos intangíveis e tangíveis
conforme a conta contábil
dos significados transcritos para o alegórico
em outra codificação para códice
- com cânone, sem cânone
canhestro estro do cânone e do cânhamo

O escritor é um Auto da Alma
- um Auto da Compadecida
o Auto da Barca do Inferno
que destina seu texto
para o fundo de seu ego
que é uma em âncora
de navio fundeado
na baía do escriba
Não se destina a olhos ávidos de curiosos leitores
roedores de textos
traças de alfarrábios
bibliotecários de Alexandria...

O erudito se corresponde consigo mesmo
na trilogia dos signos e símbolos
que enredam a história
( terceira parte da trilogia )
numa rede de teias para as aranhas presentes na narrativa
cuja primeira voz ou personagem e protagonista é o escritor
quiçá o único
no vazio aberto na casca e carapaça do corpo dos demais
que perderam o corpo e alma
para a trama do dono do teatro :
o poeta trágico ou satírico
épico homérico feérico
As outras personagens coadjuvantes
outras "ostras" em ostracismo
abrem-se no vácuo da casca do coco
e depois do espaço da casca
no vazio maior onde está a carapaça do coco
que armazena água
e massa branca comestível
- da alvura da areia que pisa a praia
com sandálias havaianas
quando a ilha é o Havaí
- Hawaii Hawaii
que não é aqui
é por aí alhures
( A carapaça do coco
tem a forma abaulada de um crânio humano
Endocarpo e mesocarpo
são arcabouços onde se aloja a polpa
- branca como a água branca
do coco-da-praia coco-da-baía
na Bahia cocada
Dentro da carapaça do coco
Por ali passa todo o universo
vindo de longe
e voltando para bilhões de anos-luz
sem que a água se mova um milímetro
sofra nenhum abalo sísmico ou sérico
nos seus eletrólitos
O coco sabe e tem notícia da galáxia mais distante em luz
conquanto não conheça a galáxia
mesmo porque não possui forma erudita de comunicação
Outrossim a galáxia mais longínqua
sabe e tem notícia do coco e do coqueiro
Por isso o poeta não escreve para ninguém
nem mantém uma correspondência de amor romântico
com algum mineral de outra Nebulosa
conhecida ou desconhecida
perscrutada pelo olho ou ocelo da barata )

O trovador a versejar em solo na vetusta Provença
- provençal e providencial
faz a bem-amada sonhar que é para ela
aquela ode retumbante
a descer nos cabelos encaracolados da cachoeira
a cantar outra ode
para bode Pan faunos e ninfas
com a lira de Ovídio e Horácio
a flauta de Pan
e a lira mais lírica que houve
e ainda se ouve
no ouvido do tempo
sem olvido no Letes
- a lira de Orfeu
jamais dada ao olvido
em paradoxais trocadilhos
com estribilhos

Porém para o filho ou filha
a berceuse suave
em pianíssimo
ouvindo Chopin
que é o pianista mais refinado para poesias românticas
- indo aos claros de luar com dedos de Debussy
a tocar ternamente na face do pequenino
da pequenina que dorme
- o sono dos pequeninos
Ah! o sono dos pequeninos!
- o sono das pequeninas e pequeninos é um sonho!
inenarrável depois que cala a berceuse
e a noite cala fundo
no calado da calada
rumorejando silente o rocio
em ouvidos moucos
loucos no arroio da madrugada
- riacho de orvalho límpido )

O rapsodo e profeta se inscreve no que escreve
- no círculo inscrito está escrito
descrito descritor
Entretanto não são destinatários
da carta do bardo
outro que não o próprio bardo
- o próprio remetente
ou emitente da mensagem cifrada
ininteligível aos outros
em epístolas para romanos

O aedo não tem interlocutor
e o que escreve
penetra no silêncio da poesia
e não sabe à poesia
mas à maresia
pois é impossível tocar na poesia
que jamais pode ser escrita
mas apenas vislumbrada na alma
de longe no horizonte idílico
no barco descendo o rio São Francisco
tocado pelo idílio da correnteza
e do remo sem pena de rêmige
Escreve num código hermético
com pena negra e pesada nas tintas
procurando esconder milhares de segredos
de si mesmo para si mesmo
pois para aqueles que finge sinceramente que escreve
gostaria de confessar
todos os seus pecados
e assim se aliviar com o confessor
do fardo pesado
a carga da gravidade

Contudo o leitor também não lê o aedo
ou o lê a medo
com a sensação da aparição iminente do deus Pã
o imenso e pavoroso Fauno dos bosques
que pode surgir abruptamente
como uma mamba negra
e subitamente inocular a peçonha letífera
por a morte em viagem no sangue
- num batel em travessia do mar vermelho
Portanto o leitor lê a si mesmo
se decodifica na pedra de Roseta
sendo Champollion de si
na escritura do aedo
no copta do poeta
desenhado na estela de Roseta
geometrizada no desenho lido pelo sábio fauno
que leu a pedra
decifrou o enigma da esfinge na estela
porquanto um fauno
ou inúmeros faunos é uma leitura decodificada da natureza
- do mais íntimo e recôndito em natureza
mais que a física e a metafisica de Aristóteles
que criou miríades de faunos na sociedade e na cultura
espargindo a sabedoria do fauno
que se centra em si
aonde vai e alcança seus sentidos
quando captam o território
até onde captam objetos
ali é o seu território
que embora pareça restrito e mapeado
limitado ou delineado pelo mapa ao alcance dos sentidos
mitigado ou reduzido pela capacidade da sensibilidade
é o universo inteiro
encerra todo o cosmos
dado num pedaço aparentemente irrisório
em um espaço que cabe num favo de mel
porquanto a totalidade integral do universo
tecido de galáxias e Nebulosas
está já presente integralmente na mínima parte
na abelha e colmeia ou em solitude
no átomo e nas partículas subatômicas
da química orgânica ou inorgânica
em tabela periódica de Mendeleiev
- o sábio e erudito russo de barba-russa
com perfil de Sileno

Nada é óbice no entanto
a que o leitor comum
de parcas letras e escasso conhecimento
leia o que não está próximo ao veneno da mamba negra
ou ao derredor do pavor que ocasiona a mera citação de Pã
o Fauno silvestre Silvano
- silvo de serpente peçonhenta
com a morte ostensiva na ponta do dente
Por isso o vulgo que lê
subjugado no cabresto
apto apenas para decodificar a vulgata
após a exegese e hermenêutica de seus pais espirituais
- os padres da igreja
cuja erística é devastadora
( de qualquer igreja ou instituição que os comande
não enquanto homens
porém na função de obedientes escravos ou servos da gleba )
- o vulgo ama o que lê
e não o que está escrito
mesmo porque o que está escrito
é um bilhete ou rito de passagem
do escritor a seu ego
ilegível ininteligível
infenso às investidas da erudição
excepto para os mais perspicazes exegetas
e os Champollions máxime da poesia de um Goethe
- máximo expoente da sensibilidade poética
e da inteligência filosófica e científica

O poeta é tão-somente um subscritor
daquilo que foi extraído dele
do fundo do vale e do campo vegetal
florescente em seu âmago
e trazido à lume pelo Fauno
do filão de sua alma

A alma do poeta é um Fauno

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

BALADA (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

Assim ele se foi :
na asa delta do delírio do passarinho
derramado no delíquio do lírio
e da lírica eremita
a caminhar com as sandálias do andarilho
pelos descampados longos
de caminhos até após o horizonte
que se pinta azul
e se desenha idílico
numa geometria de idílio e delíquio
de pio que pia
Pia Maria
Maria Pia ou Maria da Piedade
- pio de piado ( piada piaba diaba )
porém não de pássaro apeado
apeada ave
( ave é livre para ser nave!
não pode fundar reino
no pé de pimenta-do-reino )
no delta da rêmige
afim de ninho
ao fim do ninho
leite e ninho
- do fim aos confins
na queima do serafim
em cinzas de amor sem fim
preso enfim naquele soneto de mandarim
- aquele chim do vaso chinês
do parnasiano poeta
Alberto de Oliveira
que redesenhou e repintou o pictural
num real ou imaginário vaso chinês
o qual poderia estar sob vinho
numa copa ou cilice grego
que guardava um sátiro
no tongo ( círculo no interior do tongo )

Ah! meu amigo!
- e sua mãe não estava
para cantar um berceuse
antes do seu sono de anjo
que nunca cresceu no sonho
- ainda é menino ali
como todos somos!
de olhos fechados
para o tempo
que rasga o espaço por fora
nas garras afiadas da gravidade
uma leoa, uma felina

Partiu para o outro lado do silêncio
do espelho de Alice
nas Maravilhas de um país sem Silenos
- sem o sábio e velho Sileno
que disse ao Rei Midas
que o melhor para o homem
seria nunca ter nascido
e a segunda coisa melhor para o homem
seria morrer o mais depressa possível
exprimindo destarte a tragédia que é a vida humana
essa guerra sem trégua

Oh! meu amigo!
antes que chegue todo o sono
pesando nos olhos
escute a berceuse de sua mãe
que Chopin toca
não tão bem
como ela cantava!
Ah! como ela cantava!

A Alice "Atchim!" ( que somos! independente do sexo
ou quaisquer outros detalhes
ou o que seja além e aquém do que colhe a palavra "detalhes"
detalhadamente ou sem detalhar
e que foi o homem morto
que agora deixou o ser e a existência )
- esta "Alice" ou Nova Alice
partiu o espelho
( partiu o coração do espelho! )
ao entrar por ele
como se fora um caminho
ou portal aberto
perfurou a lâmina d'água
quando e aonde se inclinou
para furar a bolha em turbilhão
o burburinho de bolhas
que é a água em quantidade na extensão do espaço afora
- parou para admirar sua imagem em água talhada
sua efígie aquática
de saracura de paul
garça no esbranquiçado do osso
abandonado do torso em penas
- penacho branco sobre corpo magro
magérrimo ser do tremedal
com plantas aquáticas a se mover na água
na graça do moinho de vento
que o vento faz em sua engenharia de foles
e pistões que gostam de tocar saxofone
com os faunos ocultos nas touças de capim alto
que circundam parte da lagoa
em cuja água queda
- queda o som do quero-quero
que balança ondas senoidais
em diagramas rabiscadas
ou em garatujas na lâmina d'água
que sobre e desce
como um entre de mulher
na dança do ventre
que representa o balé ante-orgástico
da bacante dentro da alma da mulher
( espírito grego
de povo e cultura erudita
pois não há mito
mas apenas extensão dramática do rito
sem palavra inúteis no drama
na música e na dança
cuja matéria e código é o silêncio
- mas não dos Silenos
dos sábios ébrios
que abandonam o mundo
e a si mesmo no mundo
porquanto o homem é um mundo dentro do mundo
e fora dele também )

O homem morto
entrou pelo espelho de Alice
admirando Narciso em flor silvestre
a um passo do lago embevecido com a tarde calma
que cai do céu em flocos de nuvens azuis
e da noite que chega serena e fria
no sorriso algo cínico do gato de Alice
em esgar de desenho lunar
a abrir imenso sorriso do tamanho de todo o luar
- sorriso esgarçado no gato de Alice
no céu lunar do país das maravilhas
distante alguns sonos e sonhos
a léguas da realidade prosaica
da vida pífia do homem comum
que não conhece poesia
nem sabe da filosofia
no sal do paul
que se apaúla deslumbrante!
- pinturesco em Carlos Drummond de Andrade
quando descreve e pinta a lagoa
( Minas em minas gerais
são as lagoas em Minas Gerais!
- pelos campos gerais
a banhar costas de saracuras e garças
e tantas outras orlas para aves do sertão )

Quedou-se frente ao espelho
ou à lâmina d'água com efígie de saracura-do-brejo
trincando suas especulações com a alma em pedra na física quântica
lançada ao espelho ou ao espectro
nas cores que a lira tange a grei
os rebanhos em existência e migração de gnus
também nos universos paralelos
que parafraseiam matéria e anti-matéria
desunidas a "quarks"
e supostamente unidas por "bosons"
se este liame é força forte
no amarrar tempo e espaço
formando um vaso ou ânfora
canto ou cântaro
ouvindo a cachoeira ribombar
no que cai a água
dentro do coração branco do anjo
errante em queda
que foi em água
quando deveria ser em terra
- no pó da terra desidratada
menina febril
com febre terçã ou quartã
( Os anjos são em xadrez
- anjos são marimbondos em xadrez
porque anjos não existem
apenas vestem marimbondos em xadrez
em preto e branco
no preto e branco em que pisa a noite e o dia
- preto e branco em si e separados também
sendo que algumas vespas são somente em negro
não tendo cor no espaço branco
excepto se se por que o sol é sempre branco
e a noite tece trevas cada vez mais negras e silentes
- trevas para Silenos beber até se embriagar completamente
que se a vida do homem em si já é ruinosa
imagine sem o lenitivo da bebida alcoólica!
-excepto, ainda, se o homem lograr reencontrar
várias vezes na vida
o fio que leva à Ariadne
ou que Ariadne deixou par ao guiar
no labirinto aonde o espera o Minotauro
pronto para o sacrifício humano
- sendo a vida inteira um sacrifício humano!
no cotidiano da escravidão social
também com outras onomásticas :
democracia, liberdade, fraternidade, igualdade...
e outras revoluções francesas que não aconteceram
senão na lápide escrita pela história da França
porquanto se a Bastilha caiu
foi por pouco tempo
e logo foi reerguida
e o mundo voltou a eterno "status quo"
do qual somente sai por pequenos interregnos no tempo maligno ou benigno )

Vejo-o em menino
- vejo-o o menino que vi com olhos
- o nervo óptico a enviar mensagens para o ´cerebro interpretar
na primeira vez que o vi
com olhos e nervos de um menino
que eu também era
naquela Era de Peixes!
fora e dentro do aquário
do tempo de Aquário ou para aquário
onde mal criar peixes comprados
Então ele era um menino de fina ironia
soltando a pipa no azul celeste
tangida a vento
rasgada ou remendada no azul roto
de um violinista que quero azul
- azul de um céu azul
Era um menino alegre e assaz zombeteiro
como sói àqueles nos quais sobeja a saúde
e á inteligência de escol
Oh! tempo bom para ouvir berceuse!
- tempo de menino
protegido no casulo
ouvindo o som amoroso da berceuse
na voz da mãe em coro com o vento
que cantava junto um punhado da toada
que vinha na brisa suave
que passava as mãos
nas cordas da palmeira mansa
como se fossem violinistas e violões
de longo acorde
para paradoxalmente fazer dormir o menino
profundo sono de paz
sob à sombra afetiva
dos bons sonhos de mãe
acalentando o filho
antes que venha a Medusa
com longas melenas de serpentes

Aquele ágil menino
corria atrás das borboletas
- perseguia sôfrego a vida
e a alma que é uma pena de ave na vida
pena leve e livre
com o espírito de poucos homens
soprados nas narinas
por anjos lúdicos
que gostam de soprar bolhas de sabão
junto ao menino
- ao menino de todos os tempos
em todos os espaços
As borboletas fincava-as criteriosamente
como o antigos naturalistas ingleses
mortas num quadro
colecionando-as
( Ele era o Fauno
que amava a Fauna
e sabia bem da Flora
e da filosofia natural
em campos e vales de paz
onde não se ouvia a guerra
nem na voz da pomba-rola
na onomatopéia do "fogo-apagou" )

Atravessara eras em caravelas
viera em caravelas
enquanto outros viera em vieiras
e outros moluscos
com conchas bivalves
cheias ou recheadas literalmente de vidas
enquanto carregasse a concha
"às costas" e nas costas do mares e oceanos

De cara e vela para o vento
vinha na ventoinha de uma caravela
- dando a cara a bater
( a face não esbofeteada)
ao vento em barlavento e sotavento
bombordo estibordo
e também as velas
infladas qual asas em cruzes cristãs
- cruzes espanholas ou portuguesas
no mar imenso
de onde emergia de chofre um leviatã imaginário
no placebo do real
- no real placebo
do mito que servia ao rito do medo
- não o medo do mar oceano em procela
mas do rei
um pequenino bobo na corte
que tomara o poder
e mantinha-o graças ao poder do medo
- que é um poder maior que o medo

Amava as meninas
juntamente com todas as ciências
e mormente a literatura
- mãe acolhedora das ciências
genial em Dostoievski

Em dia que escureceu abruptamente para noite
- quando o sol entrou em eclise lunar
e tudo apagou subitamente
- desfez-se da luz e do fogo a brasa do sol
que se tornou um carvão com fumaça irritante
sufocante fumaça
e uma treva ou duas ou milhões de trevas de tristeza
- melancolia espessa demais para a travessia...
rasgou o véu do céu
- e naquele dia em noturno soturno
fatídico dia-noite sem dianóia ou paranóia
conheceu sua primeira e quiçá maior e mais pungente dor
a cavaleiro dos pêsames
quando perdeu a mãe
para a primeira morte com garras de harpia
que chegou envolta nas trevas
que vinha embuçando a predadora emboscada
então próxima à orla do rio Lethes
com o barqueiro Caronte roubando o ser mais querido de sua vida
a primeira alma que ele conheceu no ventre
- que era sua mãe
intacta no carinho aconchegante do casulo
que o guardara em crisálida
antes que viesse o amor da mulher
e o amor do filho ou filha
que suplanta o tempo
e mesmo a mãe
- antes do amor da borboleta
que rompe o casulo
e sai para o vôo no mundo
- vôo pisado por flores e fragrâncias no ar
que venta as asas
moinhos criadores de vento
também para soprar os moinhos de vento
no tempo de ar rarefeito
( Tempo em que a noite nasce mais negra
é uma mamba negra encolhida
próxima ao leito
e o dia também perde diamante
e ganha carvão
com o fauno a se apagar
e deixar a brasa no caminho da fumaça
até que o lume do fogo
perca toda a lucidez
e não haja mais o calor e a luz de Lúcifer
a aquecer e iluminar a vida
que o anjo de luz mantém
junto com o anjo que sopra
a alma pelas narinas
- alma de fauno
que será retirada )

Ah! e então santo Antão
dos tempos de antanho
não houve mais berceuse
- não se ouve mais berceuse
desde aquele dia impregnado no carvão!
- preto sem branco
noite sem o tabuleiro do dia
- piso para trevas
e damas da noite
( damas-da-noite com muito perfume
a embriagar os sentidos
- mas sem sentido!
e sem berceuse no berço.. )

Foi uma noite de infinitos gritos
ou mil e uma noite de lamentações!
de uma dor sem fim
Clamores que ainda ouço
conquanto não os tenha ouvido
como meus ouvidos humanos à época
quando ele perdeu sua mãe
para as harpias
Então carpia
em noite sem dia
vela sem estrela...

Com o passamento da progenitora
seguiu mais solitário pelos descampados
carente do carinho da mãe
vagou pela terra sem ternura
em meio ambiente da hipocrisia
que é um governo nuclear na sociedade e cultura
( A base de tudo, Marx,
não é a economia política
mas a hipocrisia política
que não está entretanto
somente na política dos democratas
ou dos republicanos
mas na política quotidiana
de todos nós pescadores e pecadores
roedores e ruminantes
de vetustos ritos )

O tempo retorcido no verme
que remexe o universo
na dança da vida
na qual o verme é um dos melhores bailarinos
ou bufão-barítono
- ou tenor de Ópera italiana
era um tempo em balada
antes do homem
- antes do meu amigo
ser o homem morto
para sempre separado da luz
e das sombras noctívagas nos morcegos negros
( O verme é uma alma
que prescinde da missa em latim
pois é uma alma em latim
que anima a dança
no seu mover se retorcendo
ao modo da serpente )

O tempo o cindiu
partiu o homem morto
separou anatomicamente e com espada ou bisturi
seu corpo de homem
e seu corpo de Fauno
porquanto o ser humano é mais um Fauno
dentro da libido do homem
que um corpo humano
( Os biologistas e médicos de plantão nos hospitais
esquecem o corpo do Fauno
pois impingem-lhes desde tenra idade
no labor honesto dos estudos em vermelho de sangue
a ignorar sumariamente
a anatomia e a fisiologia do Fauno
quando homem
e da Flora na mulher florida
fornida formosa ninfa e Graça
( as três Graças
é pouco para representar uma única mulher!
- quando a amamos com o viço do Fauno
vegetal vegetativo e animal
humano e mitológico
poeta e sábio e santo
filósofo e outros tipos de eruditos
que engendram ou revisitam o conhecimento)

Através da operação que destrava o corpo da alma
colhendo o derradeiro alento do espírito
que se evola
na última exalação
do vento que pára
de insuflar as velas
daquele veleiro
que vai a pique
a alma do homem rui
depois que o amor deixou de soprar no oboé
que o anjo pensa tocar
mas quem toca é o amor de um homem
em transe de Fauno
e uma mulher em deleite de Flora
quando atravessa os campos de Afrodite
- penetra o reino de Vênus
empós tais e quais auroras
o homem deixa a pele do Fauno
- troca a pele do Fauno
pela tez do homem morto
pois só se morre
quando o amor morre
sai do sangue
exangue

Agora ele está em paz das pás de terra-sobre
coberto pela espessa treva do silêncio
sob teto ou piso de muitas camadas
- agora o homem morto está em paz com as pás
que movem moinhos de vento
e enterram ou desenterram tesouros arqueológicos
paleontológicos
vazados em geoglifos ou hieróglifos
versados em Champollion
- toda a sabedoria de ler

O homem é um paradoxo
- um paradoxo sorites
tanto o homem carregado na planta com alma
como se fosse a alma flores, folhas e frutos
ou o homem morto
dado às moscas
abandonado à dança dos vermes
pois enquanto homem vivo
o ser humano é procurado desde o faroeste
quer seja vivo ou morto
porquanto começamos a vida de onde não começamos : do nada
e retornamos por onde não podemos retornar : ao nada

No entanto, do nada
se criou um salvo conduto
ou uma senha para Jesus entrar
com toda a economia da salvação
com o Livro dos Mortos e dos Ressuscitados
e salvar o homem morto
- o que é uma crueldade sem limites
uma vez que disse o sábio Sileno
que para o homem o melhor é nunca ter nascido
ou morrer o mais rápido possível
embora ninguém o queira
nem o faça
excepto os pobres-diabos que se suicidam
pois a vida dolorosa
na via "crucis"
ainda é melhor que morte
excepto se viver já é inútil
e insuportável para o vivente

Não obstante não há quem sonhe com a eutanásia
nem um louco empedernido
nem um moribundo desesperado
nas vascas da agonia
ouvindo a coruja piar á meia-noite
- a meia-noite que passa matando com a peste
desde os tempos imemoriais
em que os judeus saíram do cativeiro no Egito
e matou todos os primogênitos dos egípcios

Não há quem queira morrer
pois todos amamos o fauno
que pulula dentro de si
quando abunda a saúde
portanto é bom ter Jesus por perto
melhor ainda tê-lo por certo
já que a ciência
com seu fauno centrado na tecnologia
até hoje não logrou sequer
descobrir um elixir
contra a decrepitude
- elixir da juventude eterna
sempre perseguido como um Santo Graal científico
uma antiga aspiração
e uma panacéia
que curasse todos os males
sem o médico ou o curandeiro
ou o charlatão mais celebrado por perto
para isso queríamos e queremos a ciência
e não para ser apenas tribuna para falastrões
porquanto a ciência hoje
se fosse um homem e não uma instituição
seria um charlatão
um parlapatão e um impostor
que nada cumpriu do seu contrato
com o lado onírico do homem
que não sei se é o esquerdo
ou à direita da têmpora

Lamentavelmente ainda morremos
e este não é nosso sonho
- nem sonho ingênuo
nem tampouco sonho científico
pois Cristo nos prometeu a ressurreição
e depois do cristianismo
que não ressuscitou ninguém
veio a ciência
e fez a mesma promessa
fundamentada nos milagres da tecnologia
- mas sei que é outra farsa
e não vai cumprir o sonho acalentado há tempo
- a cada berceuse de mãe!

Vá, meu amigo!
que sua mãe há de cantar
uma berceuse!...
- outra berceuse...
para tentar ludibriar a morte
que já houve
- e ouve atenta
mas não esculpe escuta

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MULHER (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

A morte de um amigo...
- com a morte ex-amigo à vista da gávea
avistada do alto da gávea
dá-se o fenômeno do homem morto
fenomenologia que rasga a túnica inconsútil do espírito
e mata o lado boreal do homem vivo
que ficava do outro lado do rio
- do rio de sangue do homem morto
quando este era vivo
e fluía para o mar vermelho

A perda definitiva da vida de um ente
com o qual compartilhamos o mundo
significa o embaçamento de um reflexo
na lâmina d'água
- o baque na água!!!
do corpo do suicida
que suicidou-se sem aviso prévio
abruptamente
enquanto os peixes mordiscavam o anzol
( A morte é em si
um suicídio corporal
ou corporificado no cadáver jazente )

É o fim de uma memoria de si
livre de si
despojada do ego
com canto e cântaro em outro ser
- É o esboroar do alter ego
o derradeiro sinal da alteridade
cujo território distava até o outro lado do ser
no campo mais ao norte ou ao sul
- com a alteridade vislumbrada no espelho partido
entre as montanhas de um pseudo azul
no quarto da lua que sonha o quarto crescente
ou o quarto minguante de lua sorrindo
com a boca do gato de Alice
numa abstracção de lua e céu nocturno
( Chopin ao piano
apascentando o noturno pastoril
com avena no sopro do pastor )

A perda de alguém próximo
na proximidade do delta do rio
que dobra o Nilo
rio e profeta do deserto
O Nilo são dois rios correntes
- um rio de água
e outro de crocodilo do Nilo
Todavia tal perda é um fato
que bate forte no espírito de quem fica
a ver o morto
- observar um ser humano envolvido deixar de existir
passar para o outro lado da vida
ou da alma
sem rio Nilo que o banhe
- a banhar e alimentar o sangue
- o rio Nilo que é uma água dúplice
água no rio e no corpo do crocodilo do Nilo
mas não mais no pó do sangue do morto
cujo passamento o levou para a outra margem do rio
e do crocodilo
- das duas águas vivas
O homem morto em pó
foi exilado para o lado com anti-matéria
- anti-matéria de alma
que não tem já em si
matéria alguma
senão a energia
que a sustem suspensa no corpo
agarrando o pó
que a mão da água não mais segura firme
na altura do céu
- enquanto o céu é um chapéu azul
para a mulher vaidosa
porém cheias de vida
transbordando alma
pela água em corredeira

Abandonado pela água
e com o espírito num enclave
na Pedra de Roseta do momento
que jamais poderá ser decifrada
pois não há tantos Champollions assim
dentre os homens comuníssimos
porquanto são os papalvos
que constituem o cerne social
fazem fluir o rio da vida social
no seu mísero cotidiano
sem ritmo circadiano
- o homem morto
é um peixe morto descendo a cachoeira
pois o que é já não importa
mesmo porque já não é
senão o nada que desmancha o corpo
com ação de bactérias e moscas gulosas
ávidas por carne em putrefação

O passamento de um irmão
ou um amigo de décadas
é uma abrupta ruptura de um vínculo
construído pela paixão no tempo
regada na água à clepsidra
e na areia à ampulheta
gota a gota
grão de areia a grão de areia
uma dana na água da clepsidra
e na areia do deserto
ajuntada dentro de uma ampulheta
ou Relógio de Areia
nebuloso na Nebulosa no céu noturno
( Que toque Chopin
um breve estudo ao piano )
É outrossim navegar separado
cada um num veleiro
no mar criado em meio ambiente de clepsidra
em bioma de ampulheta

Qual memória de menino
que se esvai nas bolhas de sabão
a transportar a alma
para longe do corpo
abandonando o espírito morto
assim é a vida a se esvair paulatinamente
caindo da altura do pó
em queda de anjo desidratado
se desmanchando em pó
perdendo-se no sopro de oboé do vento
que tange o pó para longe
a descair da altura da figura geométrica
que desenha e mensura o pó no pó
- no rio de pó que é o corpo humano sem água
totalmente desidratado
na curva do caminho
ao pé do caminheiro
do andarilho dervixe
- anjo em pó

Tudo isso é mais
- muito mais que o luar pode iluminar
com facho no amarelo
ou no branco da ossada
que devolve à lua à lua
no reflexo que resta ao homem morto
conspícuo no branco dos ossos e da caveira
dos olhos em sua parte branca e no esqueleto
todo branco
a brilhar sob a luz do luar
que busca refletir-se e defletir-se
num olhar recíproco
de lua e ossos
que não podem se ver
- olhar cego
similar ao olhar vidrado do morto
revirado num esgar
flertando com a lua
num flerte macabro
- o diabo e a víbora
o basilisco e a mamba negra
numa troca de olhares
entre a realidade e a ficção
- de olhar de quem não se vê
não se olha
senão por outros sensores vitais
ou nenhum sensor
no caso do anjo morto
ao rás do chão no pó
- anjo desidratado
do demônio ao rés-do-chão
decompondo-se entre as ervas
que recebem o canto
e os dedos no piano do vento
ou da brisa refrescante
rascante

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

FERTILIDADE (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

A caravela era um moinho de vento /
que o vento empurrava /
na travessia pelo oceano /

Um moinho de vento /
com inovador conceito /
e desenho geométrico para o vento /
dar outro empucho /
( Um sistema de propulsão ) /

Ao invés de por a girar as pás /
na paz de Van Gogh em arte sublime /
a caravela recolhia o vento /
na barriga que a brisa ou monção /
estufava na vela branca /
pintada com cruz escarlate /
que identificava a Ordem dos Cavaleiros do Templo /

As caravelas semelhavam moinhos de vento /
- era o desenho da época /
ou moda conceptual de então /
para engenharia eólica /

A função da vela na caravela
era conter parte da força eólica em vela alva /
que inflava na forma de parábola cartesiana /
a fim de recolher o vento /
em sua alvura sob cruz cristã carmesim /

Se não era vela a catar o vento no cata-vento /
eram as quatro pás do moinho de vento /
as quais foram imortalizadas na ficção de Cervantes /
ao narrar a tresloucada investida do cavaleiro da triste figura /
contra as pás do moinho do vento /
arrostando-as com fúria impertinente /
Oh! pobre e triste cavaleiro andante! /
- Dom Quixote de La Mancha /
imagem melancólica do homem /
que será o homem morto /
e o homem ensandecido /
a poucos passos do abismo /
que se abre para o salto no vazio /
para o suicídio /
sem asas ou cruz cristã /
que arremeda a medo o desenho de asas /
que não servem à concepção do vôo /
sem laivo ou veleidade de aerodinâmica natural /
incapaz de desenhar e conceber
um planador com piloto que não fosse mórbido /
tentando inutilmente /
planar com asas sobrenaturais /
que não estão no planador /
mas na geometria sobrenatural do cristianismo /
que põe kamicazes no céu /
( O homem é o único ser
cujas asas são cruzes!
- um pássaro de cruz
e não de asas! )

As caravelas e o cristianismo eram cemitérios de cruzes /
partidas pela procela /
partindo na procela /
partilhando da procela /
- braços abertos /
no amplexo fatal /
com o vento e o tempo /
- contra o vento e o tempo! /

O homem é a caravela singrando o oceano
navegando ou naufragando
porquanto a caravela é seu invento
- sua criatura, sua invenção ou inovação de criador
seu ato de deus e Fauno
- a caravela e demias engenhos
é representa o homem
na pele e no metal de outro ser alegórico e real
tal qual o é o ser do Fauno
outra criação do homem para exprimir a vida
- a alma complexa
rígida e flexível no bioma
- a alma em fauno : meação hereditária de bicho e homem
animal nas partes pudendas
e homem no sistema nervoso central
alimentado pelo fauno interior ao homem
que é o sistema nervoso autônomo ou vegetativo
- o fauno vegetal e animal
que mantém vigorosa a alma no corpo fauno-humano

A caravela exprime no desenho da arquitetura
e na engenharia de sua construção ou montagem
que a embarca corrente da existência
( a tensa e densa existência humana! )
- expressa outra idéia de fauno!
posta em corpo de invenção
ou em artefato inventado ou criado pelo engenho fauno-humanóide
- meio e meio de homem ou ambiência humana
permeada pela sociedade e cultura
que é a liga ou cola das partes constituintes do corpo social
aonde o fauno se insere travestido de homem probo e morigerado
- meio a meio
metade fauno ou corpo de fauno
( e não de Cristo! )
silvano silvestre
silvo de víbora sibilando
sibilo sibila
erva árvore arbusto liana trepadeira caule lenhoso
- enfim : a caravela e o homem
são ambos faunos
ou fauno e fauna
metade homem e metade caravela
meio homem e meio caprídeo
- meio corpo com fundo em ritmo e rito cerebral
e metade no ritmo do rito da aritmética
que anima a natureza
na profusão e fertilidade da cornucópia

A caravela é a expressão aritmética na água
de um enorme pássaro aquático
cujas asas se abrem na envergadura do albatroz
- exótica ave cujas asas são cruzes cristãs!...
pois o invento cristão para vôo
tem asas nas cruzes cristãs
símbolo magno de uma cultura radical
assim como do Corão
vem toda uma metafísica para constituir o espírito da álgebra no homem
com sua concomitantemente geometria
seu desenho contido nas normas do arabesco
pois todo invento ou criação de homem é fauno
- é uma expressão do fauno
que é e representa o homem em sua integridade física e psíquica
corpo e alma no fauno
e não no Cristo da igreja do mocho velho
esperando a noite para navegar no símbolo das trevas

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DIÂMETRO (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia )

O pé de laranjeira que figura em em minha poética
na geometria da minha poesia
com a flor alva lavada pelo alvor avô da barra da alva
e o sorriso da barra da alva nos dentes
a cintilar orvalho no diâmetro da circunferência da gota de aljôfar
- a laranjeira com armadura medieval nos espinhos
com algum pó sutil de negrume na folhagem densa
exalando aquela fragrância delicada
que distingue o teor do perfume da flor de laranjeira
- esta laranjeira ideal
esta idéia de laranjeira
ou laranjeira em idéia platônica
captada em visões de laranjeiras nada platônicas
que a realidade põe em pé
com raízes a agarrar vigorosamente o solo
- a laranjeira plantada na minha poética
plana na origem de duas laranjeiras reais
as quais se confundem ou se fundem em uma única laranjeira
ou na idéia mesma da laranjeira poética
para uso romântico na língua romance
e para cindir o tempo e o espaço
da minha infância de um lado da casa
e da juventude no outro tempo
no espaço da casa contígua
onde morou um amigo
cuja alma foi perdida para a terra
ou para a laranja-da-terra
há pouco mais que sete dias
- finado há uns sete dias
( mas que são sete dias
para um comunista ateu
em seu ser e no de Marx?!
- um agnóstico que morreu corajosamente
recusando ser crédulo e pusilânime como um padre ou frade de Jesus
os quais vivem sob a mendicância e mendacidade
que caracteriza o homem do vulgo
ou o pseudo-monge preso a regras alheias
- alienadas na acepção dúplice de venda ou loucura
( são dementes e venais tais seres liquidados, falidos )
pois estes são a besta pior
com sete chifres ou sete cornos e a cornucópia
sete palmos sob terra
e missa no sétimo dia do niilismo sem-razão de ser
ou de conhecer em princípios
que evocam as raízes do conhecimento da filosofia
que vai de Aristóteles a Kant
em toda a extensão do fim da filosofia
com seu homônimo Marconi
nas ondas do rádio )

Uma das duas laranjeiras
foi a primeira laranjeira que conheci
e soube pelas emanações que formavam uma trilha
nos sentidos do menino
que se tratava de uma árvore de porte quase arbustivo
a qual existia no quintal de casa
quando era eu menino menino
pequenino menino
- menino de escalar o tronco torto e tortuoso do cajueiro
até o telhado de um barracão adendo à casa

Era um pé de laranja-da-terra
no dizer de minha mãe
fruto que tão-somente servia para fazer compota
pois a fruta era mui amarga
- mas pintava-se com um amarelo vivaz na casca!
e folhas de um verde escuro
- de um escuro perceptível mesmo com o o sol no zênite
tamanha extensão na treva tem a folha da laranjeira!
que possui ou ostenta
uma escuridão assombrosa no verde das folhas
nas folhas guardadoras de trevas
lastro de matéria negra
negra energia chiando no canto subliminar do universo
invadindo as regiões do cosmos com o espatifar de ondas escuras
- de uma escuridão de morte
escuras de morte!
ou presente na escuridão que precede a morte
e continua pela eternidade de olhos vendados
velados eternamente
- para sempre sem luz!
o outro véu que constitui o olhar

A outra laranjeira
que vi depois de longo tempo
que conhecera a minha laranjeira primeva
distava daquela alguns passos do Senhor dos Passos
indo da vida para a morte
com a cruz às costas
e a alma negra dentro do verde
ou mesclada à cor que alcatifa solo
para monge pisar ao longo do caminho
na travessia ou êxodo sem fim
- a outra laranjeira
Imagino que era da mesma espécie da primeira
Contudo foi naquela casa velha
com varanda com desvãos de madeira
onde morava um raro amigo com sua família
que percebi e respirei o olor da flor de laranjeira
enquanto a noite espargia trevas
na brisa fria que corria a esmo
e formulava o olfato da minha juventude
na equação química expressa no ar
em ondas de perfume
que formava uma laranjeira só de aroma
sem folha ou flores ou raiz ou tronco espinhoso

Entre essas laranjeiras
havia um clube
que tocava marchinhas de carnaval
madrugada fora ( ou dentro?)
no tempo da folia

Essas duas laranjeiras
acabaram sendo lidas como uma única laranjeira
na poesia que ousei temerariamente deixar por escrito
- lidas e escritas por mim
a pior antologia poética que reuni
porquanto a poesia que pode ser arrancada da beleza e do limbo
e escrita para ser lida
já é uma obra de violência em signos e símbolos
de violação alegórica
- é o que de pior se garimpou em versos truncados e fragmentados!

A melhor poesia
é infensa à leitura
e outrossim à literatura
por ser inatingível por meio da semiologia
e mesmo pela semiótica ritualizada pelo teatro
ou em enredo de drama no cinema e nas novelas
ou por via de qualquer sistema de língua e linguagem
ou ainda de representação humana
quer seja religiosa ou filosófica:
enfim, de qualquer outra forma humana
que não seja a manifestação da alma
- alma no sentido latim
e não no sentido cristão do mandrião
com asas e pás ao vento para mover moinhos de vento
e olvidar o tempo em um quadro de Van Gogh
então de olho pregado no tempo!
( O tempo que então estava nos moinhos de vento
soprava flauta ou trombone no nariz do pintor holandês
descendente da escola flamenga
que criou Brueguel, o velho
- pintor de Brabante )

Agora que o amigo
ficou com a alma presa à pedra
e o espírito fossilizado nos signos e símbolos de sua escrita
não há sequer uma folha de laranjeira entre nós
porque a minha laranjeira continua remando por flor e alva
mas a laranjeira do amigo morto
ficou no tempo
em que ele e a laranja-da-terra se miravam reciprocamente
- hoje essa laranjeira continua nua de espaço na terra do tempo
porquanto perdeu o espaço de terra
que ajuntava o anjo da laranjeira em sopro no ar para oboé
e não tem mais a alma do amigo falecido
para soprar o espírito de terra
e por a laranjeira em pé ante si
- frente a seu corpo
que se esboroou
no anjo em pó de laranjeira
que não mais entrou em espaço
na alma do amigo finado
sem corpo para vestir a si e a laranjeira
porque o tempo pode subsistir sem espaço
pode transcender a existência
sobrevivendo apenas com o ser
- tão-somente em essência
assim como o homem morto
vive ainda de memória
mesmo em terra de cajueiro
onde se plantou uma laranjeira
a planar no plano de Euclides, o geômetra
fora do espaço
no sentimento subjetivo que é o tempo
falando de um amigo como um homem morto
podendo decifrar o enigma de sua inteligência
no que ele deixou transcrito em signos e símbolos
se eu tivesse capacidade para penetrar seus escritos linguísticos
em simbólicos de seu pensamento
e do quanto ele sabia
que poderia ser mais ou menos do que sei eu
não obstante ser a história
- sempre narrada pelos sobreviventes de então
para os quais ainda há caminhos e passos
antes da queda no abismo escuro

Não há mais uma laranjeira
entre eu e o amigo morto
dividindo nossos espaços calcados no pó
que nos ergue em corpo pela energia
mas apenas no tempo
e de um lado só do tempo
até que meu tempo
se apague na alma

Não há mais no espaço interior
duas laranjeiras prenhe de laranjas-da-terra
porquanto uma ficou sem espaço e tempo
num interior subjetivo
de quem não mais existe
- Restou apenas a laranjeira que vejo no espaço exterior
geminado com o tempo
ou as duas laranjeiras minhas
uma no espaço e tempo exterior
e outra no espaço e tempo interior
do sujeito que não faz compota de laranja-da-terra

As duas laranjeiras
que no espaço objetivo eram independentes
fundiram-se-me em uma laranjeira una
unívoca na voz do odor

Já vira laranjais em renque
em aléia extensa
andando sobre raiz léguas sobre terras
carregados de pomos
como se fossem mulos

Todavia agora que o outro homem jaz morto
que estou sem uma parte do meu ego
alijado de alter ego ou espelho
sou um Narciso contemplando o suicídio na água
- sou um monge defronte a uma laranjeira
que recebe o reflexo da minha solidão
que se apagará também
com a luz noturna do mais amado dos vagalumes