sábado, 31 de julho de 2010

EUFEMISMO (WIKCIONÁRIO WIKI WIK )


Amor é amar a si mesmo acima de tudo /
pensando que o objecto é o outro /
um suposto ser amado /
- um mero objecto /
um ser cuja mente é um alienígena /
radicado em outro sistema nervoso vegetativo /
filho de outra água para ervas forrageiras /
no solo com folhas quedas /
decíduas folhas outonais /
a mais que os arrozais /
( os arrozais que aqui são mais que demais /
desarraigados que estão de contexto terreal )
deste poema telúrico desterrados /
outras plagas para por pés em outras latitudes /
com florestas de bétulas a folhear o chão ) /

Amar é amar a si próprio a ponto de se replicar /
no repique do filho e da filha /
gotas de chuva grossa batendo na vidraça /
aonde veio parar o coleóptero /
e a mariposa de longo vôo /
buscando pouso de teque-teque /
no espaço sem objectos que abre a janela /
para pegar de olho a lua branca /
lá fora no tempo movido a trevas /
- motor de uma noite que Joan Miró pintou /
com mulher pássaro lua estrela em escarcha /

Amar é desejar a carne /
realizar uma aspiração proteica /
Modigliani tinha por Jeanne um amor carnal /
amor em amarelo-Modigliani /
pois o que amava mesmo era sua obra /
( assim como o pai à prole ) /
sua obra-prima em amarelo-Modigliani /
que era ele mesmo na arte /
- sua mente impressa na obra de arte /
nos quadros que ele pintou /
e nos quais Jeanne é amada intensamente /
em cada densa pincelada /
para além da sede carnal /
na volúpia da arte do mestre /
que imortalizou suas acções /
nos originais de seu pensamento pictórico /
expressa em seus formosos quadros /
nos quais pinta Jeanne /
num xadrez de cores /
no qual a mulher vai do amarelo concreto /
ao abstracto Modigliani-amarelo /
de Modigliani no amarelo-Jeanne /
cor-luz e cor pigmento /
expansivo matiz no latifúndio da terra dos olhos /
monarquia amarela /
- amarelo é o rio /
a torrente amarela /

Mas então por amor às ervas e ás nuvens cinzas /
meus olhos descem ás flores baixas /
até as florzinhas amarelas em forma sutil de trombetas /
que medram cavando abaixo dos olhos /
e lêem nas pétalas e sépalas /
que o amor é absurdo /
mas uma enzima que une /
- enzima essencial é perpetuação da vida /
da qual os poetas falam com olho na lua amarela /
ou branca lua (penduricalho no céu fosco ) /
e a botânica sem cientistas formais /
diz o que diz a natureza em corpo de erva /
de rastos na terra /
Amar é um ungir um mar de terra /
- amar é terra /

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