quinta-feira, 9 de agosto de 2012

CERVEJA - glossário léxico lexicografia etimologia etimo enciclopédia delta

Rua pequena 
pequenina
cabe e coube na pena
do pavão ( que sou! :
Que sou eu?!...)
do faisão...
Mas meã não! :
- anã branca ao sol pálido
cálido
em seu calado
prenúncio da calada
preta na meia da noite
assombrada por trevas riscadas por coriscos
coruscantes
e ribombos no bombo
tambores
desenhando senóides no vento
( As ondas senoidais são o balanço geométrico
Euclides dançante
em corpo de baile
com a dança que balança
e embala
a água e o ar
na corrente eletromagnética
mudando e movendo o espaço
com um dos atributos do tempo
que é o movimento
- motor matemático
na equação literal comunicada
na análise da parábola cartesiana
que dança e canta e dana-se em parábolas!....:
- sem Jesus!!!
Dança é música de Musa em silêncio profundo e longo
- longo gongo!
cujo duo de voz é a melodia e o silêncio
- algébrico silêncio abacial )

A rua com seu casario
vinha de praça com estátua equestre
de presidente egresso do império de barbas
que errava pelo império de Dom Pedro
e rastejava qual quadrúpede
bêbada em tropelias
até uma velha ao cabo da vassoura do vento
- uma velha construção cor cinza-diabos
na pintura do tempo em corpo tatuado de lagarto
aonde funcionara uma indústria
aos pés e passos da linha férrea
e que ficara com inscrição em latim
ao frontispício
depois que abrigara uma academia de ginástica aeróbica
porque não tinha química para ser anaeróbica
respirando por bactérias
( Construindo e desconstruindo a alvenaria negra
lacertídeos que emprestavam matéria
às paredes do galpão
que se constituía em corpo desses lagartos negros cinzas-diabos
ao se cruzarem num ponto de tricô ou croché
da velhinha-do-tempo
que os tecia em uma mantilha
um agasalho ou um sapatinho de bebê )

De um a outro lado da rua
as casas cochichavam
brancas amarelas azuis...
( quatro casas a barlavento da lua
e seis a sotavento do sol )
e cochilavam à noite
remexendo-se na insônia
que não cabia no leito
por causa de um beijo
fora do tempo e do espaço
- ósculo de amantes

livre do mal da bruxa
da maldição da feiticeira
que não pode macular 
o imaculado coração de Maria
que bate o martelo no peito da bem-amada
( Aquele beijo
Oh! aquele beijo delicado!
mui apaixonado!
metade sonho ou a meio ou em meio ao sono
mixórdia de matéria e energia de sono e sonho
onírico e real
ou a um passo do real
- aquele beijo que nunca nos selou os lábios de carne!
vindo direto nos lábios dela
no escuro da câmara
subjugando-nos no enrosco serpentino do silêncio
- beijo de lábios colados...
Ah! inesquecível amplexo de Íncubo e Súcubo
ainda que irrealizado
ou semi-realizado entre o surreal e o real
que perdura dentro da alma
ou das duas almas
que  o quiseram realizar
todavia não o puderam expressar
fora do entre-sono
entre-sonho
que selaram os lábios ali
para sempre
entre o que é sonho e vigília
matéria e energia
Contudo o beijo veio dos lábios da amada real
em natureza física composta
separada de mim apenas pela barra da alva
as penas da garça
e a flor de laranjeira
na guirlanda de noiva
cujo nome está escrito
no paul em que vi a saracura
saracotear-se
em toda a minha poesia
( Minha poesia é uma linguagem
toda  voltada para dentro
que lambe com a língua
o que está no fundo do favo
e  traz à baila
o mel da melhor abelha
retirado do néctar da flor
que preconiza o fruto
a boca e os dentes e a fruta
- o metabolismo, enfim! ))

A idade da rua é a idade da cidade idosa
dos idos do século
com ordens seculares e regulares
ordens para suprir o tempo
e regras para se isolar do tempo
nos claustros dos mosteiros
nas abadias
sob regras
severas regras de São Bento Abade
a tirar o  mosteiro e o monge do mundo temporal
substituindo tempo por regras pétreas
( O que teia aquele tempo
é a teia de aranha
- teia da vida
que telha a dor moral
advinda do social
pela ciência do antropólogo traduzida
em signos e símbolos
que a expressa )

Em menina descalça na monja carmelita
a rua em criança no tempo
devia atravessar-se
nos jogos lúdicos
correndo de um lado a outro da rua
branca rua com cara de lua
branca do branco da nuvem
e da graça da garça refletindo o gládio de luz do sol nas penas
Branco ou alvo garça
do pote da torrente do São Francisco
rio para potes de gerações de homens e ervas
arbustos animais e árvores frondosas 
ter aonde beber
outrossim nas gotas de rocio
no ponto do orvalho
que tecia e guardava um par de sapatos de lã
do bebê que viria em mim
na manhã da outra manhã
ou na madrugada gélida
com vento nas ventas dos moinhos de vento da Holanda
com Van Gogh ainda juvenil
longe plagas da literatura védica
da pintura impressionista e expressionista...
( Quando se é mui jovem
a literatura védica parece distante
- no passo em que pisam as estrelas
longe do burburinho quotidiano 
ela paira sobranceira no espaço sideral
porém com a maturidade e a erudição
acha-se os Vedas no sebo da esquina
em suas garatujas originárias 
O recém-nascido nada sabe do sânscrito
conquanto cante o canto dos Vedas
em seu pranto  
com seu aparelho fonador)

Por um lado da ruazinha mansa e pacata
subia-se lentamente à casa de Rachel
- a "Dona Rachel" de andar algo fleumático
mulher em lipídios
tecido adiposo
onde não pousa a mariposa
de voo piloto na chuça da chuva em chuço sem rebuço
e do vento que ali passava
entre corredores
(  O vento é um corredor olímpico
atleta tetra
no corredor das borboletas
abertas as aletas
alertas no planador
que flutua em flor branca
do ar ao solo
calçados por ervas )

No princípio da rua
casa roxa com alpendre
olhava das janelas para o portão
- roxa casa enroscada na glória matutina
a soprar trombetas lilases
e indo índigo plantar
um bem de raiz
- a anileira!
Indo ainda ao indígena indigente
sem sinal ou som de língua indo-européia
assim como fui também indo índico
pelo caminho do índio e do hindu
com meus versos em trovas
com ovas de peixe
escritos com sumo de limão
no verso anverso do universo
versados em mamão à mão do violão
versejados por versejadores tais e quais
cheios de tantos ais!
na metragem metralha 
esparsa no espaço esparso da tralha...
- ou da gralha grelha galha palha...
Valha-me Deus!... )

No fim da rua
a casa do poeta
ficara com o legado do suicídio
Calçada alta
timbrava a solidão
com o brasão da morte do poeta
que se suicidou
Era um homem de sobrenome Quinaud
senhor de versos versus o mundo
( versado no mundo erudito?! )
com poesia escrita no sumo do limão
no infinito invisível
de uma noite negra e apagada de qualquer luz difusa
até no túnel ou labirinto do sonho
Nunca li um ceitil
nem um til
de sua poesia febril
- poesia para miosótis e sopros de jasmim
e outras flores de sopro perfumado ao vento de escotilha
que vinha na vinha de voz de minha mãe
em gavinhas e uvas no caramanchão ou pérgola
( Minha mãe é quem me falara do poeta suicida
porquanto amava a alma dos poetas
que para ela era um poeta
dentro de outro poeta
numa sucessão de poetas individuais
imbricados no mito de barro e papiro
das águas do pote com peixe de Jesus e discípulos
que era o rio São Francisco
de cachoeira em cachos cantantes
sem a planta do papiro
- Mãe, que se casara com um homem pragmático,
insosso
sem chão na poesia
sem escabelo na arte da erva
arraigado aos vegetais da cerveja
envasada na indústria de silêncio em flor de campo
da deusa Ceres
a senhora dos cereais
maltados ou naturais)

Uma noite
sono em plenilúnio
sonho com novilúnio
em plena travessia pelo onírico
- para o lírico do lírio na lira
entrei pela porta da frente de uma casa daquela rua
e ao sair pelos fundos
abrindo uma porta de madeira
- estava na China comunista!

Rua, ruazinha, travessa, viela... 
 

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