segunda-feira, 13 de agosto de 2012

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Auto-retrato de Vincent Van Gogh


No retrato há um morto e um vivo simultâneos
que paradoxalmente não é o mesmo ente
nem tampouco o mesmo ser
mas também o é
pois o ser vivo é um ente vital
gerido por alma sensível
e espírito pensante
- uma indústria silente
a transmutar energia em matéria
e vice-versa no que versa a versatilidade da vida
- um plasma plástico
maleável e inteligente ao extremo
um febricitante ser no homem viril
pelo labor do intelecto
contudo não exatamente um ser
pois no retrato falta tempo
para integrar o ser com o tempo
e o ser sem tempo
não participa da existência
nem da essência do homem
e logo é um ser e não-ser
sem vir-a-ser ou devir
expresso pela  morte

Por outro lado do paralelogramo
o morto é ente no cadáver
despojado de existência e essência
jogado à correnteza da decomposição célere
conquanto retráctil seja o retrato
em trato de sapato para pato palmípede
que faz gato-sapato com os pés com chulé
na pele de Pelé e Garrincha
- no beiral do telhado da garriça ou cambaxirra

( Quero a luz das abelhas
- à luz das abelhas
quero
- quero ver
olhar a flor da laranjeira
- adorada odorata! )

No retrato se retrata dois seres
um vivo e outro morto
ao mesmo tempo
e no mesmo ser e não-ser
no número um e não-numeral zero matemáticos
( O zero é um numeral simbólico
tanto quanto o um
e os demais algarismos rabiscados )
O ser vivo existe fora do retrato
Do lado claro-escuro do retrato
o ente morto está posto
por um ato e um fato
de dois seres vivos à época :
o retratista e o retratado
os quais nadam na torrente do vir-a-ser
e na fotografia
peixes na luz
feixes cromáticos
em preto e branco de sapato
claro e escuro de Caravaggio
- tudo preto no branco
xadrez trançado nas vestimentas
tingidas pelas cores berrantes do arco-íris :
O  vivo com vestes talares alvas
de essênios posando
nas albas a lamber as faldas das montanhas
e o morto trajado com mortalha
e máscara mortuária
porquanto o retrato é retrátil
versátil no soprar do oboé
e do oboísta
- anjo que sopra por detrás das ventas do arcanjo
o vento que toca
os moinhos de vento
e as areias do tempo na ampulheta
bailarinas de Degas em pinacoteca

Ambos nos olham :
o vivo e o morto
Todavia não nos vêem
porque não têm olhos para mover os cílios
piscar para as estrelas internas aos olhos
- no céu noturno dos olhos negros
cm a lua no máximo do amarelo da madrugada orvalhada
O morto olha-não-olha
porque parado ali
para sempre emparedado no retrato
e na propriedade retráctil do retrato
- cristalizado em rochas sedimentares de luz!
que na fotografia virou pedra-pome ( púmice)
de rocha magmática
ao erigir uma ilha : o retrato
separando um Robinson Crusoe do tempo
O vivo olha sem visão retratada
refratada
porque está atuando ainda no tempo fora do retrato
que o imobilizou e prendeu em cadeias de luz
( teias de aranha branca
na lua branca ao zênite :
lua em teia de aranha branca  tecida de luz solar )
- com a poção do tempo em cronômetro de bruxo
demudado em lucíferas alvenarias
a discorrer sobre o rio do vir-a-ser
aonde passou o filósofo Heráclito de Éfeso
um grego atravessando um outro Rubicão
para ir à Roma
e ter com os romanos
- gregários no Direito
( O Direito é a  filosofia torta de Roma
evidentemente não para filósofos cínicos
grandes escarnecedores nos meandros da política
e da guerra
que é o ato magno da política
quer seja a profana ou a sagrada
movida por atos de druidas ou de reis e imperadores
- sátrapas enfim!
Os filósofos cínicos
aos quais os oponentes denominam de cães
eram de fato e em atos
homens livres
cultores do "pathos" da liberdade extremada
ainda que sob o gravame da maior escravidão externa
exercida pelo estado românico
colocando a opressão
sobre as espáduas do homem grego
em particular o filósofo cínico
que ao servilismo contrapôs vigorosamente
a filosofia do desprezo
pelo universo político-militar dos romanos
os quais representam para o filósofo cínico
os verdadeiros cães
que sempre voltam ao vômito
- que regurgitam
( referindo-se à bulimia lendária do romano! )
Inobstante, esta filosofia tortuosa e falsa
hipócrita mesmo
dos antigos donos do mundo
( os romanos na empresa das legiões )
era um jogo semiológico
para "aventar" cidadãos romanos
perfeitos escravos da lei
e do tirano em voga
Trata-se o Direito romano de uma filosofia mínima
uma pseudo-filosofia de cunho oficial
em forma de práxis ritual
tateando a ética
a qual se radica na razão
mas sobrevivendo de fato da moral
a qual provem do irracional
a "ratificar" paradoxalmente
o costume grosseiro e brutal
do homem à sarjeta
decaído na vala comum da existência
anjo desgraçado
maldito
amaldiçoado
escarnecido
( o cinismo é um filosofia menor
originária na Hélade dominada
cujo escopo é atender
albergar 
e dar dignidade interna
à sobrevivência do forte
do homem nobre
escarninho
do filósofo virtuoso ( o cínico cultuava a virtude da fortaleza
que talvez seja a única virtude de fato
sendo as demais 
meras expressões e virtuosidade desta )
cujo último bastião
era sua mente invicta
como um sol divino
em tempos de escravidão
imposta por Roma
ao homem exterior
- o indivíduo temerário
que ousa desafiar
aos porcos de Owen
sempre no poder
correlatos aos levantes
e ao ao ato do suíno
sempiterno e vitalício no comando
do zoológico humano
com seus zoólogos
sob controle doutrinário
imposto de Roma e por Roma
( este o mais lancinante imposto de Roma!
das Romas que imperam até hoje
sob sutis políticas religiosas
que são mais compreendidas pela natureza da mulher
O homem entende melhor a política profana
enquanto a mulher se esmera no conhecimento e prática
da política sacra  )
O cinismo vem na mesma esteira do estoicismo
ambas evasão e debandada
do indivíduo ferido de morte pela filosofia
O cristianismo é um cinismo popular
- uma vulgarização da filosofia dos cínicos gregos
a forma religiosa da ciência jurídica
no contexto historial de Roma antiga
e das Romas em sobreviventes
O cinismo é outrossim um retrato de um tempo
a qual  demonstra historiologicamente
que o Direito é uma mescla eclética ou uma  síntese
entre as  filosofias menores : o cinismo e o estoicismo
Só  que a filosofia não impera
antes opera no anelo pela liberdade do ser humano
em oposição ao Direito
que sendo uma filosofia oficial
não passa de fato de um conjunto de regras
marcadas pelos interesses escusos
dos  donos do estado ou da república
O Direito é uma norma de conduta totalitária
absoluta como os monarcas absolutistas
uma alienação do pensamento humano
cujo fito é coagir e oprimir o homem
- porquanto vem a ser um poder
que faz curvar o homem
então genuflexo ante o soberano
seja ele estado lei ou rei ou império
O direito e a religião
são políticas de dois estados dentro do estado
e vêm a suscitar o terceiro estado
no qual Hitler pode ressuscitar
Portanto, ao Direito não é dado sequer
ser uma das  filosofias mínimas
da magna Grécia
porque vem a tolher os atos humanos :
encarcerar
enforcar
esquartejar
decapitar o ser humano
é seu objetivo
O direito é uma forma perversa e pervertida  de anti-filosofia
cujo escopo é subtrair sorrateiramente
a liberdade do homem
e levá-lo em massa para o Jardim  Zoológico
que são todos os asilos institucionais
- uma colônia penal para todos
exceptuados os senhores no poder ) )

(  Ah! ar ! : Quero ar!
Quero a luz das abelhas
- à luz das abelhas
quero ver
o que quero e muito quero
no Quero-quero
que voa a estridular o seu grito
- estribilho rascante! )

O ser vivo está no tempo
a pisotear o lagar
gravado no corpo
na anatomia e fisiologia
no aglomerado de poeira a colar o organismo
com colágeno
vinculando matéria e energia de mártir

( Quero a luz das abelhas
- à luz das abelhas
quero
- quero ver!
  e ser longânimo
 tal qual um patriarca bíblico )

No morto resta o pó do tempo
enterrando-o
cobrindo-o
- No mosto o morto está em fotografia
coberto pela poeria do tempo
Seus olhos não  olham
ou olham e não vêem
estão imóveis e alijados do tempo
- sem tempo que os mova
à face das águas
reflexivas

( Quero a luz das abelhas
- à luz das abelhas
quero
- quero retratar
o Quero-quero na solitude do voo
em bando a "fretinir"
similar às cigarras a fretinir )

No retrato há duas faces do mesmo deus Jano :
um vivo e um morto
O vivo foge da prisão de luz do retrato
e aspira ao tempo-de-respirar
inspira e expira fabricando o tempo e a vida
dentro de um período
Já o morto jaz no retrato
qual um epitáfio
com uma cruz a encimar a cova rasa
plantada ao rés-do-chão
paralela à raiz vegetal
- não quadrada ou quádrupla ou quadrática
na Ática da matemática

A morte é o objeto da tragédia
- objeto abstrato ( abstruso ) :
o morto é o objeto concreto
empírico
A vida evoca a tragédia
na tradição grega
em coro de sátiros
- que são entes naturais
e máscaras mortuárias
ou personais  ( de personas )
que representam com o ator
( morto individual )
a morte social
na substituição do rosto
pela máscara da "persona" teatral :
o drama entre o ser humano e a pessoa
do indivíduo e do ente coletivo

O retrato é tragédia do ser
e do não-ser
que são a mesma coisa
e a mesma pessoa
à luz da abelha
( A luz da abelha
que quero
tanto quero
no Quero-quero
que atravessa o ar
entre o anjo azul
e o arcanjo verde
- caído, decaído há décadas no pasto
(Lustros entre gramíneas
e outros rastejantes ao rés-do-chão ) )

O retrato é uma tragédia
em um ato
e um fato
em natureza rochosa
mineral
 pinacoteca taxonomia nomenclatura binomial terminologia científica biologia botânica zoologia ornitologia

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