quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

MULHER VERDE MULHER EM OTTOBISMARK.COM

( mulher mulher verde mulher mulher )
Tenho uma mulher /
dentro do cérebro/
Ela não sai de lá /
não passeia, nem brinca/
ou brilha sob o sol/
é uma mulher verde/
verde no olhar/
no mar verde a mar/
mar a mar de a-mar o mar em mar /
a-mar-o mar é -amar mar e mar :a-mar-o /

Muitas mulheres andam lá fora do meu cérebro /
mas ela não é nenhuma delas /
nunca nasceu ao mundo/
que é para mim a extensão do meu cérebro/
Essas mulheres la fora são mulheres do mundo/
mundanas criaturas sob o céu /
- o céu que risca a cor de anil a anum /

São mulheres que não nasceram de mim/
ou da poesia que poesia em poeta que poeta em mim/
poeta do poeta que sou no poeta/
- no poeta de rasgar os céus com versos nus /

Poetas de outras poesias /
chamaram-na na Beatriz ou Natércia /
Julieta de Romeu, Sarah de Abraão /
sussurraram Lolita em Nabokov /
murmuraram-na em nomes de esposa ou concubinas/
e virgens com face talhada nas virgens de Leonardo da Vinci /
mas nenhuma era ela/
nem em Leonardo da Vinci ou em Modigliani /
- nenhum deles esboçou a amada que não nasceu/
que ficou guardada em sonhos/
nadando sereia no mar onírico mar/
mar a mar no mar a amar o mar/
verde mar em olhos d'água/
olhos dela de mar verde mar a mar - amar/

Tentaram debalde trazê-la à existência ou ao existencialismo ateu/
à mulher verde verde a olhos de mar /
verde nos olhos d'água verde mar a mar/
de mar que quer a mar e amar o mar /
amar verde mar a-mar o mar de mar a mar /
a-mar à mar mar a mar mar-a mar o mar a-mar amar /
a-mar-o-mar o a-mar-a mar-a mar-a mar : a-mar-o-mar ) /

Essa mulher habitante do meu cérebro/
Modigliani a pintou vezes em telas/
- Modigliani pintou-a vezes algébricas/
retratando-a de chapéu/
sob a rubrica da esposa dele/
cujo nome era Jeanne Heburterne/
que se suicidou grávida/
quando Modigliani faleceu no hospital/
devido aos excessos de álcool e tóxicos/
ingeridos em seus desvarios/

Todavia essa mulher da obra de Modigliani/
essa mulher verde mar em mim /
verde mar a amar a mar e o mar em mim/
nunca saiu de dentro de mim/
jamais encarnou-se ou reencarnou-se /
em meus oaristos de priscas horas/
porque o amor sempre é platônico/
nunca deixa a idéia/
que é transcendental/
a idéia é pura e literalmente cerebral/
não cai no mundo do anjo/
que caiu com face no pó da terra /
( a terra é o homem /
produto de água mar de mar em sangue /
no corpo de água e terra /
onde faísca o relâmpago /
que inspira o ar na combustão/
que explode no motor dos pulmões )/

O amor jamais desce ao solo/
tal qual a rainha ou a princesa na liteira/
que não põe seu pé de princesa real/
no chão barbudo de ervas daninhas/
e lagartos em velocidade/
entre os feixes de sol/
e o verde vegetal/
que amarra o solo/
e fotografa a vida/
pela câmara da clorofila/

O amor é a mulher verde em olhos/
que mora na aldeia/
arquitetada e construída dentro de mim/
pela minha imaginação delirante/
do meu cérebro agindo no sonho/

A mulher verde/
de verdes olhos a olhar verde de olhos verdes a olhos verdes/
verdes olhos de mar a mar - amar /
é a pura idéia de Platão/
que está presente/
no ser de cada indivíduo/
em poesia e poesia que poesia /
poesia-a em poesia em mim e ti/
( a poesia-a e poesia-a à poesia em poesia de poesia /
- poesi-a à poesia e poesia-a na poesia-na poesia que poesia ) /

O amor é sempre platônico/
não sai dos lindes mapeados pela idéia de Platão/
pois o que procuramos numa mulher/
é a realização perfeita/
realização da idéia/
da mulher que está dentro do nosso ser/
com aquela mulher real lá fora/
a mulher existente/
a mulher no mundo/
vestida em carne mutante/
mergulhada no turbilhão de causas e efeitos/
um ser no mundo feito mulher/
e não mais somente/
dentro do ideário ideal platônico/
arquitetado em nosso cérebro/

Anelamos pela conjunção do sexo perfeito/
união feliz de dois sexos/
que se encaixem plenamente/
que se satisfaçam cabalmente/
no orgasmo sincrônico /
algo ainda platônico/
porque a carne existente/
não tem a leveza transcendente/
para fazer o amor fora da criança/
que vem em deus Amor /
- realizar o amor fora da roda da criança no berço /
ou na manjedoura do presépio /

A mulher ideal vive comigo/
como um monja dentro de um monge/
que é sua cela de carmelita descalça /
florindo nos muros elevados/
de um mosteiro plantado em solo/
de um tempo medieval curvo /
numa curva surreal do espaço corvo /
- turvo corvo curvo é o espaço e o tempo /
na geometria que analisa a curva da parábola cartesiana /

A mulher verde musgo e erva e mar /
morrerá comigo /
embora não toque o solo /
nem seja iluminada pela energia /
que risca o raio de fogo na matéria composta/
ou reproduza outro animal/
- Morrerá comigo /
porque dentro dela canta um anjo/
que sou eu fora da geometria plana de Euclides /
este anjo vivo ou morto/

A mulher verde ideal/
trai a mulher real/
que existe no mundo/
ao sol clorofilado/
e não à sombra sem clorofila/
do mundo onírico/
onde ela rasteja pelas ervas verdes/
do Sistema Nervoso Vegetativo/
que é o jardim do poeta /

( Ela nada sereia no mar de dentro /
no líquido amniótico de filha que não vai nascer )/

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